Mato Grosso do Sul em alerta

Praga popularmente conhecida como mosca dos estábulos acomete o rebanho bovino da região sul do estado do Mato Grosso do Sul

Nos últimos meses, o rebanho bovino da região sul do Mato Grosso do Sul tem sido acometido por surtos da mosca Stomoxys calcitrans, popularmente conhecida como mosca dos estábulos. Além de prejudicar diretamente o rebanho, a praga tem provocado tensões políticas entre pecuária e setor sucroalcooleiro, duas atividades de extrema relevância para a economia da região.

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A razão do conflito reside na queixa de que o aumento da praga está relacionado à grande quantidade de usinas de cana-de-açúcar instaladas na região.

No município de Angélica, os pecuaristas reclamam do surto dos mosquitos e associaram a infestação ao vinhoto da usina Angélica Agro-Energia. O grupo chegou a denunciar formalmente a usina e solicitar um posicionamento da Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal).

Para o médico veterinário e pesquisador da Embrapa Gado de Corte, João Batista Catto, as proporções do caso ainda são indefinidas. “Embora a associação entre os surtos e as usinas seja muito forte, o fato de ainda não ter sido mensurado o quanto as usinas têm colaborado para os surtos, vem ocasionando posicionamentos diferentes”.

Já o médico veterinário Gustavo Máximo explica que os resíduos da cana e o vinhoto formam um dos substratos propícios à proliferação da mosca. “As larvas se criam em matéria orgânica vegetal em decomposição como feno, palha, palhadas de café e arroz”, detalha. Para o biólogo e pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Wilson Koller, é preciso considerar que, “o surto é decorrente do aumento de ambientes favoráveis ao desenvolvimento das larvas da mosca, em especial nas áreas de cultura e usinagem da cana-de-açúcar, mas também foi fortemente influenciado pela precipitação pluviométrica atípica que ocorreu nos meses de julho e outubro”.

Diante da polêmica, a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul) tem procurado mediar a situação a partir de pesquisas e grupos de trabalho que orientam pecuaristas e usineiros quanto às práticas necessárias para superação do surto anual e prevenção de novas infestações.

Cuidados necessários
Máximo relata que o controle baseia-se inicialmente no manejo sanitário de esterco e dos restos vegetais gerados nas propriedades. “O esterco e a cama dos animais devem ser recolhidos e colocados em estrumeiras às quais as moscas não tenham acesso. Podem também ser colocados e espalhados em camada fina sobre o solo para que a luz e o calor promovam a morte de ovos e larvas”, detalha.

João Batista avalia que, nesse momento, os esforços têm sido dirigidos para entender as causas relacionadas ao problema nas usinas, nas propriedades pecuárias e ao clima, no sentido de mensurar quanto e como cada parte tem causado os surtos da mosca. “Esse entendimento é que servirá de base para o planejamento de outras medidas que possam ser eficientes, práticas e econômicas”, analisa.

Koller acrescenta que uma série de medidas já têm sido adotadas nas usinas. “Diminuição dos ambientes adequados ao desenvolvimento das larvas da mosca por meio de manejo adequado da compostagem da torta de filtro; incorporação ao solo do material vegetal restante da colheita mecanizada já associado à vinhaça; e uso de cal virgem na compostagem e áreas de empoçamento da vinhaça”, enumera.

Nas fazendas ao redor das usinas tem sido empregados mosquicidas nas áreas de abrigo das moscas e dos animais. Mas é preciso cuidar das condições de saneamento das instalações. “É importante que haja limpeza de restos alimentares nos locais reservados à suplementação alimentar e o espelhamento de dejetos acumulados, especialmente em confinamentos, mangueiros e currais”, reitera João Batista.

Ainda não há um levantamento do número de propriedades afetadas e da intensidade de infestação. Contudo, surtos recentes da mosca dos estábulos também têm sido noticiados em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, sendo que, há alguns anos, ocorreu em Mato Grosso. Esses dados demonstram que não se trata de um caso isolado, e que, portanto, autoridades e pecuaristas de todo o país devem ficar alertas a este pequeno inimigo.


Fonte: Revista Produz, AnoV Número 47
Editora Racar



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